Dra. Cláudia Madeira Miranda

Defini-se a  cardiomiopatia atrial  (CMA) como a um substrato anormal dos átrios e que predispõe à arritmia e formação de trombos intracardíacos, evidenciando a complexa heterogeinidade dos risco tromboembólico de portadores de FA . Sinais da CMA associam-se independentemente com incidência aumentada de eventos cerebrovasculares e seriam úteis como fatores prognósticos em pacientes submetidos à terapia de ablação de FA.   Em revisão de literatura, os autores descrevem a contribuição de métodos não invasivos para definição da presença de CMA como Ecodopplercardiografia, resonância magnética cardíaca e mapeamento eletroanatômico. O ECG, ferramenta acessível aos cardiologistas, pode fornecer informações sobre a CMA, tais como:

  1. Critérios tradicionais de sobrecargas atriais
  2. Critérios de bloqueio interatrial (BIA): que é classificado em graus 1º (duração de onda P≥ 120ms) a avançado (morfologia bifásica nas derivações inferiores); 
  3. alteração de força terminal de onda P em V1: obtida pelo produto entre a duração da fase negativa (porção terminal) da onda P pelo valor da profundidade da mesma (em µV) em V1, sendo anormal o valor > 40.000 µVxms. 
  4. desvio de eixo de onda P: normal 0o a +75o 
  5. Aumento da dispersão de conda P: anormal se ≥ 40ms
  6.  amplitude de onda P em DI: anormal se< 0.1µ

A combinação dos critérios acima como morfologia de ondas P em derivações inferiores, sua menor amplitude em DI e sua duração aumentada já foram utilizados na construção e  MVP (Morphology Voltage P-wave) escore que estratificou grupos quanto à predição futura de diagnóstico de FA. Esse escore foi aplicado em pacientes pós AVE com resultados favoráveis, porém é necessária sua validação mais ampla. Além disso, o simples acréscimo da análise da onda P no ECG de 12 derivações ao tradicional escore CHA2DS2VASC melhorou o valor prognóstico deste último em relação às complicações tromboembólicas da FA.

Referências:

– Kariki, Ourania, et al. “Atrial cardiomyopathy: Diagnosis, clinical implications and unresolved issues in anticoagulation therapy.” Journal of Electrocardiology (2022).

– Chen, Lin Yee, et al. “P Wave Parameters and Indices: A Critical Appraisal of Clinical Utility, Challenges, and Future Research—A Consensus Document Endorsed by the International Society of Electrocardiology and the International Society for Holter and Noninvasive Electrocardiology.” Circulation: Arrhythmia and Electrophysiology 15.4 (2022): e010435.

– Bay´es de Luna A, Platonov P, Cosio FG, Cygankiewicz I, Pastore C, Baranowski R, et al. A separate entity from left atrial enlargement: a consensus report. J Electrocardiol 2012 Sep;45(5):445–51.

– Alexander B, Haseeb S, van Rooy H, Tse G, Hopman W, Martinez-Selles M, et al. Reduced P-wave voltage in Lead I is associated with development of atrial fibrillation in patients with coronary artery disease. J Atr Fibrillat 2017 Dec 31;10 (4):1657.

– Perez-Riera AR, de Abreu LC, Barbosa-Barros R, Grindler J, Fernandes-Cardoso A, Baranchuk A. P-wave dispersion: an update. Indian Pacing Electrophysiol J 2016 Jul-Aug;16(4):126–33.

– Hayıroglu ˘ M˙ I, Çınar T, Selçuk M, Çinier G, Alexander B, Dogan ˘ S, et al. The significance of the morphology-voltage-P-wave duration (MVP) ECG score for prediction of in-hospital and long-term atrial fibrillation in ischemic stroke. J Electrocardiol 2021 Sep;14(69):44–50.

– Maheshwari A, Norby FL, Roetker NS, Soliman EZ, Koene RJ, Rooney MR, et al. Refining prediction of atrial fibrillation-related stroke using the P2-CHA2DS2- VASc score. Circulation. 2019 Jan 8;139(2):180–91.

Sobrecargas atriais ao ECG

Bloqueio interatrial

Dispersão de onda P: P max – P min

Força terminal de onda P em V1 (PTFV1